sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Poema da Decadência

Era suposto o sol brilhar
cristalizar um raio de mar
e delinear as sombras citadinas.

Era suposto alguém acordar com o som da luz
e simplesmente sonhar.
Sonhar verdadeiramente.

Era suposto ouvir o canto dos pequenos pássaros
contraponteando os indefinidos
e arrítmicos sons da colmeia salgada.

Deixar um rasto
por entre o calhau aquecido
e sentir nos lábios
uma suave vibração atlântica.

Escrever algo na areia
e poder lê-lo.

E esperar horas e horas para que uma onda
apenas uma
o primeiro lençol de espuma
desperto pela tardia curiosidade marítima
o acaricie.

Esperar que a leveza escultora
dessas amenas águas cercantes
lhe feche as pálpebras
num solene e contínuo gesto de natureza
- um gesto de realidade.

Uma demonstração metafórica
de que tudo começa e desvanece
no caótico mundo do sub-consciente.
E que um dia mais tarde se recicla
num autêntico acto de criação.

No fundo
um daqueles inexplicáveis feed-backs.

Era suposto tudo isto e muito mais.
Muito mais que a primeira espreitadela do pulular matinal.
E muito mais que o vaguear na penumbra do naufrágio solar.

Mas a escuridão asficiava-me
lentamente
como uma tampa de um caixão
que sobre nós se fecha
deixando-nos com as últimas imagens iluminadas
- os acenos de quem por cima fica.

1 comentário:

  1. Olá Pedro,
    Estive a ver os teus outros blog,s, mas parece-me que não se pode fazer comentários !
    Abraço
    Rui Pereira

    Acho que a tua poesia é tão boa como a tua música.

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© 2007-2011 Pedro Abreu