sábado, 30 de abril de 2011

Na quinta-feira à noite

não há palavra
ou qualquer tipo de
expressão linguística
que descreva a beleza
do poema que
senti
vivi
na passada quinta-feira
à noite

a maior parte de nós
não vê razão
para recordar
uma quinta-feira
geralmente não há nada
de especial
numa quinta-feira
à noite

não é como a sexta
última etapa da tortura semanal
(para a maior parte de nós)

não é como o
sábado à noite
em que quase tudo
se esquece
(voluntariamente)

quase tudo se esquece
especialmente
de que somos covardes
por natureza covardes
de segunda a sexta
pois vivemos
quase todos
um certo temor
agendado

trocamos uma parte de nós
por empregos
segurança social e descontos
em latas de atum
o habitual pague 2 leve 3
(em que se paga sempre mais)

vivemos apressados
de segunda a sexta
um pouco menos
ao sábado

rezamos
ao domingo
para que tudo fique assim
a balada do adeus
à esperança de melhor
antes assim
que pior

digo-vos:
não há palavra
ou qualquer tipo de
expressão linguística
que descreva
a elevação
do ser
que celebra
uma quinta-feira
quando a maior parte
de nós
espera pelo sábado
(para esquecer)
e pelo domingo
(para rezar)

e quando chegarem
os tempos
de cantar
o negro blues
cantarei
(ao contrário de vocês)
sobre tempos
melhores
e não menos piores

por isso ergo
o copo de bordeaux
na quinta-feira à noite
enrolo a ganza
na quinta-feira à noite
esqueço quase tudo
na quinta-feira à noite
e rezo as minhas baladas
na quinta-feira
à noite

ámen!


(Zagreb, 30 de Abril 2011)

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