terça-feira, 12 de abril de 2011

Lá em baixo

lá em baixo
automóveis apressados
por pouco atropelam
peões apressados
os semáforos tornam-se irrelevantes
quando `as 6:30 da manhã,
por entre os blocos
de cimento elevado
que assombram um mar
de formigas,
se apressa `aquele lugar
de sempre

lá em baixo
as buzinas berram
anunciam
o começar de mais um dia
assim como as crianças,
mártires involuntários
com as suas mochilas de chumbo,
que como mulas berram
e se apressam `aquele lugar
de sempre

parece que temos todos
aquele lugar de sempre

parece-nos no mínimo
inevitável

parece-nos, não obstante, único
este lugar de sempre
mesmo que cercado por paredes
e instalações eléctricas,
televisores de plasma
e caixas de pagamento automático

parece-nos único
este lugar de sempre

parece-nos inevitavelmente
único

mesmo com os seus cartazes-jumbo
e todo o fumo vomitado
pelos automóveis,
pelos parasitas embrulhados em
uniformes de polícia,
e por outros de fato e gravata,
Armani, Hugo Boss (uma merda dessas),
a caminho do parlamento
o mesmo lugar de sempre
onde pouco ou nada
se decide
como sempre

e como em todos os outros lugares
de sempre

parece que cada homem
se julga único
elevado como o cimento
`as 6:30 da manhã
olhando lá em baixo
o mar de formigas apressadas
entrando e saindo de sombras citadinas
ignorando semáforos
e escapando por pouco
ao atropelamento

lá em baixo naquele lugar
de sempre


(Zagreb, 12 de Abril 2011)

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